INTRODUÇÃO
A
expressão escrita possui a sua importância e finalidades sociais. Essa se faz
imprescindível nas necessidades básicas atuais. O dever da escola é formar
cidadãos conscientes e críticos. A missão da língua portuguesa aparece nesse
contexto como a maior responsável nessa tarefa. A visão crítica e o pensamento
sobre o mundo se irão inserir na vida intelectual do aluno através da
comunicação escrita e oral, por meio de argumentações, exposições e leituras
sobre a realidade. Quando levamos o ensino gramatical e de análises linguísticas
à sala de aula será por meio dessas modalidades. A atividade oportuna para o
aperfeiçoamento da habilidade escrita é a reescrita, através de um planejamento
didático que preveja o acompanhamento do professor, além disso, também são
condicionantes a socialização de textos para a realização da análise linguística
e a autocorreção.
O ATO DE ESCREVER
A
escrita acontece quando produzimos um texto que nos servirá para um rascunho
inicial. Uma boa redação vem de um rascunho, e nunca de uma primeira versão,
pois será por meio de sucessivas versões que o texto será aperfeiçoado e assim
obteremos um bom produto final. Com esse intuito os Parâmetros Curriculares
Nacionais nos indicam o planejamento e a coordenação dos aspectos que regem uma
boa redação e que o aluno provavelmente não o saberá sozinho. Essa atividade
primordial já será fruto de um trabalho anterior de estudo do gênero de texto
em questão. Como diz os Parâmetros Curriculares Nacionais: [...]a refacção faz
parte do processo de escrita: durante a elaboração de um texto, se relêem
trechos para prosseguir a redação, se reformulam passagens. Um texto pronto
será quase sempre produto de sucessivas versões. Tais procedimentos devem ser
ensinados e podem ser aprendidos. (PCNS, 1998, p. 77).
Para
que o alunado saiba produzir certo tipo de texto se faz necessário
propiciar-lhes ferramentas para a sua elaboração. Devemos oportunizar um estudo
prévio acerca da estrutura do texto. Também é importante usarmos textos que
sirvam de parâmetros para confeccioná-lo. Como nos sugere os Parâmetros
Curriculares Nacionais: "Para uma boa parte das crianças e jovens
brasileiros, a escola é o único espaço que pode proporcionar acesso a textos
escritos, textos estes que se converterão, inevitavelmente, em modelos para a
produção." (PCNS, 1998, p. 25).
Esclarecer
os objetivos didáticos da escrita é uma alternativa conveniente à prática
pedagógica. Esses objetivos terão maior alcance se houver uma finalidade
concreta, por exemplo, uma exposição dos trabalhos, elaboração de um livro,
jornais etc. Isso facilita o interesse da classe em realizar a atividade. A
missão do professor é incentivar e não inibir, como expôs Irandé Antunes:
"O professor, normalmente, tem inibido o uso da rasura, deixando passar a
falsa ideia de que a palavra certa já está na primeira tentativa."
(ANTUNES, 2003, p.59). O ensino de português nos dias atuais está mais voltado
para a aparência da escrita, do que ensinar a escrever. Para saber escrever é
preciso ter motivação. O professor, no início, pode fazer um levantamento da
situação linguística do alunado, e o que representa escrever para eles. Manter
o cuidado em propiciar um ambiente acolhedor, sem preconceitos e
constrangimentos; e também ser responsável quanto à familiaridade dos alunos
com os conteúdos.
A ANÁLISE LINGÜÍSTICA E A AUTOCORREÇÃO
Após a
entrega dos trabalhos, o professor faz o papel mediador da correção e não será
o único a corrigir. Para tanto é interessante marcar nos textos dos alunos
pistas para a análise e a organização das ideias, sugerir o uso do dicionário e
rever a estrutura do texto. Não apenas destacar erros de desvios ortográficos,
pois essa tarefa resulta esquecível na maior parte dos casos se o aluno não for
levado a refletir sobre ela. A ortografia será revista em plano secundário
quando seguida essa proposta pedagógica. O docente pode valer-se da ação de
anotar os problemas de desencadeamento de ideias, mais frequentes nos textos da
classe. Sugere-se expô-las em lâminas de retroprojetor, cartazes e ou passadas
no quadro. Dessa forma, a ação levará aos alunos a visualizar pendências das
suas escritas. Cabe lembrar que aqui o conteúdo figura no plano principal do
ato de escrever.
No
momento seguinte, a classe discute como melhorar as passagens apresentadas, a
fim de melhorar a estrutura dos seus textos, visto que já existiu um estudo
anterior sobre isto. A autora Irandé Antunes na sua recente obra nos comprova:
Reescrita
[...] corresponde ao momento de análise do que foi escrito, para aquele que
escreve confirmar se os objetivos foram cumpridos, se conseguiu a concentração
temática desejada, se há coerência e clareza no desenvolvimento das ideias, se
há encadeamento entre os vários segmentos do texto (ANTUNES, 2003, p.56).
Para
que a prática de produção de textos escritos nessa nova perspectiva obtenha
bons frutos, é imprescindível que o professor liberte-se da maneira tradicional
de avaliar um texto. Marcos Bagno nos aponta em sua obra Preconceito Linguístico
(2003) uma reflexão sobre o olhar avaliativo do professor de português em
relação ao texto: "É uma preocupação quase exclusiva com a forma, pouco
importando o que haja ali de conteúdo" (BAGNO, 2003, p.131). Isto ocorre
em atividades escolares de redação em que o aluno é inibido de expressar-se com
criatividade, sem perceber que está lhe sendo tirado o poder da palavra, da
argumentação e da criticidade, pois as normas da escrita se sobressaem acima do
conteúdo, enquanto deveriam servir de apoio à boa escrita. Um texto impecável
na forma não quer dizer que seja excelente em conteúdo e desencadeamento de ideias
que são a espinha dorsal da redação. Esse autor nos conclui: "Isso que é
educar: dar voz ao outro, encorajá-lo a manifestar-se... Sem isso, não é de
admirar que a atividade de redação seja tão problemática na escola."
(BAGNO, 2003, p.139).
A
REESCRITA
A
reescrita é o momento final do trabalho. Após todas as etapas anteriores
cumpridas finalmente o texto é passado a limpo. A autocorreção deve ser
observada nessa etapa, isto é, reescrever com as devidas correções e
aperfeiçoamentos, por meio da elaboração de atividades que ofereçam
instrumentos linguísticos (questões linguísticas e discursivas) para o aluno
revisar o texto. Aqui entrarão os conteúdos metalinguísticos que devem ser
estudados na respectiva série, mostrando as suas finalidades, e de que eles são
um meio para a qualificação e não o todo descontextualizado, como ocorre
tradicionalmente através de frases soltas, as quais só possuem finalidades
didáticas e não comunicativas e sociais.
Como afirmam
os autores Guedes e Souza no seu artigo: Finalmente, é preciso que o professor
seja professor e examine esses textos para orientar minuciosamente as
reescritas que vão qualificá-los. Orientar a reescrita não é apenas adequar o
conteúdo às verdades estabelecidas da ciência nem a forma do texto ao modo
consagrado de escrever [...], é principalmente levar o autor a repensar a
pertinência dos dados com que está lidando [...] perguntar-se para que vai
servir o que está escrevendo. (GUEDES E SOUZA, 2001, p. 149).
Os
objetivos que foram prometidos no início da tarefa, nesse momento devem ser
concretizados, isto é, o livro de autoria dos alunos, a feira do livro, o
jornal da turma etc. Nesse instante podemos afirmar que a disciplina de língua
portuguesa cumpriu a sua missão social. Como escreveu Paulo Freire um
importante referencial pedagógico brasileiro: [...] somos os únicos seres que,
social e historicamente, nos tornamos capazes de aprender. [...] Aprender para
nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem
abertura ao risco e à aventura do espírito. (FREIRE, 2002, 77)
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Após na
reflexão proporcionada pela presente pesquisa, constatamos que há muito a ser
feito em prol da autonomia intelectual dos nossos alunos, os quais não estão
acostumados a interpretarem e criticarem sozinhos. Isso se deve ao fato de
passarem uma vida escolar afora aprendendo disciplinas e conteúdos
descontextualizados. A língua portuguesa perpassa por todos os campos do
conhecimento das nossas escolas. Saber argumentar na disciplina de português é
a chave do raciocínio para argumentar nas demais leituras necessárias na vida.
A reescrita é uma proposta que pretende auxiliar na busca dessa autonomia.
Através da análise do seu próprio texto, separação dos objetos a serem
questionados, resolução desses problemas, registros dos resultados e a
socialização dos mesmos.
Vivemos
em uma sociedade, na qual as informações são dinâmicas. Portanto devemos
adequar o perfil da classe a essa perspectiva. Os alunos não podem ser mais
meros agentes passivos dos conhecimentos, devem contestar, auto-avaliar, e ler
sobre o mundo com compreensão autônoma.
REFERÊNCIAS
ANTUNES,
Irandé. Aulas de Português: encontros & interação. São Paulo:
Parábola, 2003.
BAGNO,
Marcos. Preconceito
lingüístico: o que é, como se faz. 27 ed. São Paulo: Loyola, 2003.
FREIRE,
Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
GUEDES,
Paulo Coimbra, SOUZA, Jane Mari de. Não apenas o texto mas o diálogo em língua
escrita é o conteúdo da aula de português. In: NEVES, Iara Conceição
Bitencourt. (org) et ali. Ler
e escrever: compromisso de todas as áreas. Porto Alegre: UFRGS, 2001
MINISTÉRIO
DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO; SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL.Parâmetros
Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental
Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998.
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