ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
Introdução
A educação é, com certeza, um dos fatores mais importantes para a
construção de uma sociedade democrática, desenvolvida e socialmente justa. É
condição básica e direito fundamental da cidadania. A educação como ato crítico
radical, de conhecer para transformar, será a única garantia de valorização do
ser humano. O domínio da língua, nas diferentes vertentes da palavra escrita e
falada, da leitura e da oralidade, é crucial nos mais variados domínios da vida
individual e coletiva. Não há cidadania nem competência profissional plenas sem
um domínio robusto da língua portuguesa.
Ao longo dos anos a alfabetização tem sido alvo de inúmeras
controvérsias teóricas e metodológicas, exigindo que a escola e, os educadores
se posicionem em relação às mesmas. Essas mudanças nas práticas de ensino podem
ocorrer tanto nas definições dos conteúdos a serem desenvolvidos quanto na
natureza da organização do trabalho pedagógico.
Hoje o desafio maior é "Como alfabetizar letrando". Os processos
de alfabetização e letramento são complexos, mas fundamentais para a inclusão
social. O ensino de Letramento rompe barreiras tradicionais que considera a
alfabetização como pré-requisito para o domínio da leitura e escrita
Não se deve haver uma dicotomia entre a alfabetização e o letramento.
São processos que caminham juntos, e devem ser ensinados juntos no âmbito
escolar, ou seja, é preciso o educador não penas alfabetize ou 'letre' o
educando, e sim 'alfabetize letrando' o aluno, para que possa orientar o mesmo,
o ato de ler e de escrever no contexto das práticas sociais.
Nos dias de hoje, ser alfabetizado, isto é, saber ler e escrever, tem se
revelado condição insuficiente para responder adequadamente às demandas da
sociedade. Há alguns anos, não muito distantes, bastava que a pessoa soubesse
assinar o nome, porque dela, só interessava o voto. Hoje, saber ler e escrever
de forma mecânica não garante a uma pessoa interação plena com os diferentes
tipos de textos que circulam na sociedade. É preciso ser capaz de não apenas
decodificar sons e letras, mas entender os significados e usos das palavras em
diferentes contextos.
Infelizmente, a situação de nosso país nas últimas décadas, com relação
aos índices de analfabetismo, é muito alarmante, pois muito se discute, mas, na
prática, muito pouco é feito. O número de alunos aprovados ao final do primeiro
ano escolar não é satisfatório, assim como o número dos que chegam à 4ª série
do ensino fundamental sem estarem sequer alfabetizados/letrados também é preocupante.
Desde a invenção da escrita 3000 a.C, pelos Sumérios, habitantes da
mesopotâmia, vários métodos foram utilizados com a finalidade de alfabetizar,
que segundo o dicionário Aurélio significa: Ensinar a ler. Mas surgiu na década
de 80, uma nova definição referente ao ensinar a ler que é o chamado
Letramento.
Em um mesmo momento histórico, em sociedades distanciadas tanto
geograficamente quanto socioeconomicamente e culturalmente sentiu-se a
necessidade de reconhecer e nomear práticas sociais do ler e escrever
resultantes da aprendizagem, no Brasil a discussão do letramento surge
enraizada no conceito de alfabetização. Dissociar alfabetização e letramento é
um único equívoco, pois alfabetização o desenvolvimento de habilidades de
leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, o
letramento, sendo processos simultâneos.
Falar em alfabetização e letramento dentro da educação e fora dela é um
assunto que não se esgotara facilmente, pois a sociedade vem impondo novos
padrões de exigência, mesmo diante de novos paradigmas, métodos, teorias
psicológicas precisamos nos adaptar ao novo.
Um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado. O
indivíduo alfabetizado e letrado além de saber ler e escrever, responde
adequadamente as demandas sociais da leitura e da escrita
1 – Alfabetização
É tornar o indivíduo capaz de ler e escrever. A alfabetização se ocupa
da aquisição da escrita, por um indivíduo ou grupo de indivíduos. É o processo
pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utilizá-lo
para ler e escrever, ou seja: o domínio da tecnologia, técnicas para exercer a
arte e ciência da escrita.
A alfabetização é um processo no qual o indivíduo assimila o aprendizado
do alfabeto e a sua utilização como código de comunicação. Esse processo não se
deve resumir apenas na aquisição dessas habilidades mecânicas (codificação e
decodificação) do ato de ler, mas na capacidade de interpretar, compreender,
criticar e produzir conhecimento. A alfabetização envolve também o
desenvolvimento de novas formas de compreensão e uso da linguagem de uma
maneira geral.
Elatem sido entendida tradicionalmente como um processo de ensinar e
aprender a ler e escrever, portanto, alfabetizado é aquele que lê e escreve. O
conceito de alfabetização para Paulo Freire tem um significado mais abrangente,
na medida em que vai além do domínio do código escrito, pois, enquanto prática
discursiva possibilita uma leitura crítica da realidade, constitui-se como um
importante instrumento de resgate da cidadania e reforça o engajamento do
cidadão nos movimentos sociais que lutam pela melhoria da qualidade de vida e
pela transformação social. Ele defendia a idéia de que a leitura do mundo
precede a leitura da palavra, fundamentando-se na antropologia: o ser humano,
muito antes de inventar códigos linguísticos, já lia o seu mundo.
A alfabetização de qualquer indivíduo é algo que nunca será alcançado
por completo, ou seja, não há um ponto final. A realidade é que existe a
extensão e a amplitude da alfabetização no educando, no que se diz respeito às
práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita. Nesse âmbito, muito
estudiosos discutem a necessidade de se transpor os rígidos conceitos
estabelecidos sobre a alfabetização, e assim, considerá-la como a relação entre
os educandos e o mundo, pois, este está em constante processo de transformação.
2 – Letramento
O termo letramento tem sido utilizado atualmente por alguns
estudiosos para designar o processo de desenvolvimento das habilidades de
leitura e de escrita nas práticas sociais e profissionais. Por que esse termo
surgiu? Segundo alguns autores, a explicação está nas novas demandas da
sociedade, cada vez mais centrada na escrita, que exigem adaptabilidade às
transformações que ocorrem em ritmo acelerado, atualização constante,
flexibilidade e mobilidade para ocupar novos postos de trabalho. Os defensores
do termo "letramento" insistem que ele é mais amplo do que a
alfabetização ou que eles são equivalentes.
Letramento é uma tradução para o português da palavra inglesa
"literacy" que pode ser traduzida como a condição de ser letrado. A
palavra letramento ainda não está dicionarizada, porque foi introduzida muito
recentemente na língua portuguesa, tanto que quase podemos datar com precisão
sua entrada na nossa língua, identificar quando e onde essa palavra foi usada
pela primeira vez.
Parece que a palavra letramento apareceu pela primeira vez no livro de Mary Kato: No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística, de 1986.
Parece que a palavra letramento apareceu pela primeira vez no livro de Mary Kato: No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística, de 1986.
Letramento é o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um
indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da escrita. É usar a leitura e
a escrita para seguir instruções (receitas, bula de remédio, manuais de jogo),
apoiar à memória (lista), comunicar-se (recado, bilhete, telegrama), divertir e
emocionar-se (conto, fábula, lenda), informar (notícia), orientar-se no mundo
(o Atlas) e nas ruas (os sinais de trânsito).
É o resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais e da
escrita, ou seja, um conjunto de práticas sociais, que usam a escrita, enquanto
sistema simbólico, enquanto tecnologia, em contextos específicos da escrita
denomina-se letramento que implica habilidades várias, tais como: capacidade de
ler e escrever para atingir diferentes objetivos, permitir que o sujeito
interprete, divirta-se, seduza sistematize, confronte, induza, documente,
informe, oriente-se, reivindique, e garanta a sua memória, garantindo-lhe a sua
condição diferenciada na relação com o mundo. Compreender o que se lê.
Na ambivalência dessa resolução conceitual, encontra-se o desafio dos
educadores em face do ensino da língua escrita: o alfabetizar letrando.
Desenvolvendo a necessidade de associar a teoria e prática.
O letramento tem início quando a criança começa a conviver com as
diferentes manifestações da escrita na sociedade e se amplia cotidianamente por
toda vida, com a participação nas práticas sociais que envolvem a língua
escrita. Abarca as mais diversas práticas de escrita na sociedade e pode ir
desde uma apropriação mínima da escrita, tal como o indivíduo que é analfabeto,
mas letrado na medida em que identifica o valor do dinheiro e o ônibus que deve
tomar, consegue fazer cálculos complexos, sabe distinguir marcas de mercadorias
etc., porém não escreve cartas, não lê jornal, etc. Se a crianças não sabe ler,
mas pede que leiam histórias para ela, ou finge estar lendo um livro, se não
sabe escrever, mas faz rabiscos dizendo que aquilo é uma carta que escreveu
para alguém, é letrada, embora analfabeta, porque conhece e tenta exercer, no
limite de suas possibilidades, práticas de leitura e de escrita.
Para dizer que uma pessoa é letrada é quando faz uso das habilidades de
ler e escrever inserindo um conjunto de práticas sociais, não apenas no
conhecimento das letras e do modo de associá-las, mas usar esse conhecimento em
benefício de formas de expressão e comunicação, reconhecidas e necessárias em
um determinado contexto cultural, letramento depende da alfabetização, ou seja,
da teoria e prática, pessoas letradas e não alfabetizadas mesmo incapazes de
ler e escrever compreendem os papeis sociais da escrita distinguem gêneros ou
reconhecem as diferenças entre a língua escrita e a oralidade.
3 – Leitura
A leitura é a base do processo de alfabetização e também da formação da
cidadania. Ao ler uma história a criança desenvolve todo um potencial crítico:
pensar, duvidar, questionar.
Etimologicamente, ler deriva do latim "lego/legere", que
significa recolher, apanhar, escolher, captar com os olhos. Nesta reflexão,
enfatizamos a leitura da palavra escrita.
Mas o que seria leitura? A leitura é uma experiência pessoal, a qual não
depende somente da decodificação de símbolos gráficos, mas de todo o contexto
ligado à história de vida de cada indivíduo, para que este possa relacionar
seus conceitos prévios com o conteúdo do texto, e desta forma construir o
sentido.
A prática da leitura se faz presente em nossas vidas desde o momento em
que começamos a "compreender" o mundo à nossa volta. No constante
desejo de decifrar e interpretar o sentido das coisas que nos cercam, de
perceber o mundo sob diversas perspectivas, de relacionar a realidade ficcional
com a que vivemos, no contato com um livro, enfim, em todos estes casos estamos
de certa forma lendo, embora, muitas vezes, não nos demos conta.
As tecnologias do mundo moderno fizeram com que as pessoas deixassem a
leitura de livros de lado, isso resultou em jovens cada vez mais
desinteressados pelos livros, possuindo vocabulários cada vez mais pobres.
A leitura é algo crucial para a aprendizagem do ser humano, pois é
através dela que podemos enriquecer nosso vocabulário, obter conhecimento,
dinamizar o raciocínio e a interação. Muitas pessoas dizem não ter paciência em
ler um livro, no entanto isso acontece por falta de hábito, pois se a leitura
fosse um hábito rotineiro as pessoas saberiam apreciar uma boa obra literária,
por exemplo.
A literatura de modo geral amplia e diversifica nossas visões e
interpretações sobre o mundo e da vida como um todo. O hábito de ler deve ser
estimulado na infância, para que o indivíduo aprenda desde pequeno que ler é
algo importante e prazeroso, assim com certeza ele será um adulto culto,
dinâmico e perspicaz.
"Num contexto onde a escrita e a leitura fazem parte das práticas
cotidianas, a criança tem a oportunidade de observar adultos utilizando a
leitura de jornais, bulas, instruções, guias para consulta e busca de
informações específicas ou gerais; o uso da escrita para confecções de listas,
preenchimento de cheques e documentos, pequenas comunicações e atos de leitura
dirigidos a ela (ouvir histórias lidas). A participação nessas atividades ou a
observação de como os adultos interagem com a escrita e a leitura gera
oportunidades para que a criança reflita sobre o seu significado para os
adultos". (AZENHA, 1999, p. 44).
Através da leitura todos se tornam iguais, com as mesmas oportunidades.
A leitura, além de tornar o homem mais livre, possibilita que ele vá a muitos
lugares que, sem a leitura jamais iria. "Através da leitura todos se
tornam iguais, com as mesmas oportunidades. A leitura, além de tornar o homem
mais livre, possibilita que ele vá a muitos lugares que sem a leitura jamais
iria" (HOFFMANN, 2009).
A leitura para uns é uma atividade prazerosa para outros um desafio a
conquistar, que somente será alcançado através de muito incentivo, das escolas
das famílias e na sociedade. Um bom leitor não é aquele que lê muitas vezes o
mesmo tipo de texto, mas aquele que lê diversos tipos de texto com
profundidade.
Na formação de cada cidadão bem como de um povo, a leitura é de máxima
importância, representando um papel essencial, pois se revela como uma das vias
no processo de construção do conhecimento, como fonte de informação e formação
cultural. Ademais, ler é benéfico à saúde mental, pois é uma atividade
'neuróbica', ou seja, a atividade da leitura faz reforçar as conexões entre os
neurônios. Para a mente, ainda não inventaram melhor exercício do que ler
atentamente e refletir sobre o texto.
A pessoa que lê conhece o mundo e conhecendo-o terá condições de atuar
sobre ele modificando-o e tornando-o melhor, por que a leitura é o principal
aspecto constituinte do pensamento crítico. O homem que não tem oportunidade de
aprender a ler, certamente será 'excluído' da sociedade, ou melhor, não terá a
mesma participação que aqueles que têm essa oportunidade.
O hábito da leitura é de extrema importância na formação intelectual do
indivíduo, pois através dela, cria-se o espírito crítico-social. Ensinar a ler
e escrever é alfabetizar, levar o aluno ao domínio do código escrito, isso
feito principalmente na sala de aula, pois a mesma é o lugar da criação de um
vínculo com a leitura.
4 – Escrita
Escrever é um conjunto de habilidades e comportamentos que se estendem
desde simplesmente escrever o próprio nome até escrever uma tese de doutorado. Uma
pessoa pode ser capaz de escrever um bilhete, uma carta, mas não ser capaz de
escrever uma argumentação defendendo um ponto de vista, escrever um ensaio
sobre determinado assunto. Assim escrever é também um conjunto de habilidades,
comportamentos, conhecimentos que compõem um longo e complexo continuo
A escrita tem muitos usos práticos: as pessoas, no seu dia-a-dia,
elaboram listas para fazer trocas comerciais, correspondem-se por cartas etc..
A escrita, em geral, serve também para registrar a história, a literatura, as
crenças religiosas, o conhecimento de um povo. Ela é, além disso, um espaço
importante de discussão e de debate de assuntos polêmicos. No Brasil de hoje,
por exemplo, são muitos os textos escritos que discutem temas como a ecologia,
o direito à terra, o papel social da mulher, os direitos das minorias, a
qualidade do ensino oferecido aos cidadãos, e assim por diante.
Não basta à escola ter como objetivos alfabetizar os alunos: ela tem o
dever de criar condições para que eles aprendam a escrever textos adequados às
suas intenções e aos contextos em que serão lidos e utilizados.
Muitas crianças chegam à escola com idéias bastante claras a esse
respeito, sabem que são lidas coisas escritas e não desenhos. Que um livro tem
um título, que lendo pode-se saber o que está dito em um texto.
Hoje em dia a alfabetização ganha um sentido próprio e específico, ou
seja, a alfabetização passa a ser entendida como um processo de aquisição da
língua escrita e não apenas como aquisição de um código. E não há como se
considerar um processo inicial desvinculado de um processo de desenvolvimento
da escrita.
O reconhecimento da escrita como objeto social, como produção humana,
que traz a marca do desenvolvimento histórico da humanidade e que simboliza uma
das formas do homem transformar a realidade para se comunicar com outros
homens, remete justamente para o entendimento de que o homem, ao se apropriar
desse objeto do conhecimento o transforma, porque a ele imprime seu significado
único e pessoal e, ao mesmo tempo, se transforma, pois, ao apropriar-se,
desenvolve-se.
Nosso sistema de escrita funciona segundo um princípio alfabético: a
quantidade de letras de uma palavra corresponde, a grosso modo, ao número de
sons que compõem a palavra. Entender o princípio alfabético não é o mesmo que
conhecer os sons das letras. Uma criança pode saber que ao símbolo escrito E
corresponde ao som [e], que ao símbolo L corresponde o som [l], mas, mesmo
assim, ela pode não ter compreendido o mecanismo que permite formar uma palavra
escrita.
Algumas crianças chegam à escola com a compreensão do princípio
alfabético. Outras pensam que o número de letras de uma palavra é igual ao
número de sílabas de uma palavra, enquanto outras, sequer entenderam que as
letras escritas tem relação com os sons das palavras. Devemos lembrar sempre
que as crianças não chegam à escola com o mesmo nível de compreensão que do
seja ler e escrever.
Para ensinar a escrever é preciso, para começar, que o professor queira
saber o que o aluno tem a dizer sobre o assunto a respeito do qual pediu que
ele escrevesse e que acredite que esse aluno tem realmente alguma coisa a
dizer. Para acreditar que o aluno tem algo a dizer é preciso que o professor se
perceba como alguém que também tenha algo a dizer, isto é, o texto escrito pelo
professor é pré-requisito para que o aluno escreva o seu texto. O professor só
pode provar a seus alunos que escrever faz sentido se conseguir mostrar-lhes
que, tal como ler, escrever é produzir sentido, que o autor do texto é o
primeiro leitor a ser atingido pelos efeitos de sentido provocados por seu
esforço de mobilização dos recursos expressivos historicamente construídos na
língua, para pôr uma certa ordem na vida e no mundo.
Em seguida, é importante que o professor constitua, na sala de aula, o
público para os textos de seus alunos e os ponha sistematicamente em discussão.
É preciso reverter a tradicional crença de que somos todos incapazes de
escrever, substituindo-a pela convicção natural de que somos todos capazes de
escrever para descobrirmos o que somos capazes de dizer a respeito do assunto
de que estamos tratando. Essa capacidade brota do trabalho de escrever (e não
de uma inspiração iluminada) e do diálogo do texto resultante desse trabalho
com os seus leitores, e esse diálogo só faz sentido se for para subsidiar uma
ou mais reescritas do texto, com a finalidade de construir, a respeito do
assunto, a clareza possível nesse momento histórico, pelo qual passa o autor do
texto.
Finalmente, é necessário que o professor seja professor e examine esses
textos para orientar, minuciosamente, as reescritas que vão qualificá-los.
Orientar a reescrita não é apenas adequar o conteúdo às verdades estabelecidas
pela ciência, nem a forma do texto ao modo consagrado de escrever nessa área de
conhecimento, mas é principalmente, levar o autor do texto a repensar a
pertinência dos dados com que está lidando, a coerência da tese que apresenta,
a adequação entre dados e tese, em fim, levá-lo a perceber lacunas nas
informações de que dispõe e a se perguntar para que vai servir o que está
escrevendo.
Ensinar a escrever é uma tarefa de uma escola disposta a olhar para
frente e não para a repetição do passado que nos trouxe à escola que temos
hoje. Trabalhar com o texto implica trabalhar com a incerteza e com o erro e
não com a resposta certa, porque escrever é produzir e não reproduzir velhas
certezas, pois as certezas nos deixam no mesmo lugar. É o erro que nos leva na
direção do novo.
5 – Alfabetizar Letrando
O desafio da alfabetização, hoje, é alfabetizar letrando. Além
desse conhecimento, o alfabetizador precisa entender que alfabetização é um
processo complexo que inicia antes da alfabetização escolar, assumindo-se a
escrita pela dimensão simbólica e enfatizando os seus usos sociais. Por meio da
mediação do adulto a criança vai identificando a natureza da linguagem escrita,
porém a qualidade das interações é que vão determinar as concepções que a
criança apresenta sobre a linguagem escrita. É função de a escola dar
continuidade a esse trabalho, de forma sistematizada pelo contato com as
diversas práticas sociais que participa.
A alfabetização e o letramento, são fundamentos da educação e devem ser
encarados como essenciais para que as crianças atinjam um nível satisfatório de
compreensão do mundo. É isso que a alfabetização e o letramento fazem, além de
demonstrar os signos e símbolos, faz com que compreendamos o mundo em que
vivemos.
Na concepção atual, a alfabetização não precede o letramento, os dois
processos podem ser vistos como simultâneos, entendendo que no conceito de
alfabetização estaria compreendido o de letramento e vice-versa.
Isto será possível se a alfabetização for entendida além da aprendizagem
grafofônica e que em letramento inclui-se a aprendizagem do sistema de escrita.
A conveniência da existência dos dois termos, que embora designem processos
interdependentes, indissociáveis e simultâneos, são processos de natureza
diferente, uma vez que envolve habilidades e competências específicas,
implicando, com isso, formas diferenciadas de aprendizagem e em conseqüência,
métodos e procedimentos diferenciados de ensino.
Assim, a participação das crianças em experiências variadas com leitura
e escrita, conhecimento e interação com diferentes tipos e gêneros de material,
a habilidade de codificação e decodificação da língua escrita, o conhecimento e
reconhecimento dos processos de tradução da fala sonora para a forma gráfica da
escrita implica numa importante revisão dos procedimentos e métodos para o
ensino, uma vez que cada fase desse processo exige procedimentos e métodos
diferenciados, pois cada criança e cada grupo de crianças necessitam de formas
diferenciadas na ação pedagógica.
A proposta de alfabetizar letrando rompe definitivamente com a divisão
entre o 'momento de aprender' e o 'momento de fazer uso da aprendizagem'.
Estudos lingüísticos propõem a articulação dinâmica e reversível entre
'descobrir a escrita' (conhecimento de suas funções e formas de manifestação),
'aprender a escrita' (compreensão de regras e modos de funcionamento) e 'usar
a escrita' (cultivo de suas práticas a partir de um referencial culturalmente
significativo para o sujeito).
No alfabetizar letrando, se resgata o papel do professor como mediador,
recuperando sua figura de elo entre o educando e a matéria de conhecimento, interferindo
no processo sem desviá-lo nem desvirtuá-lo. A interação aluno-conteúdo é um
diálogo aluno-mundo mediado pelo professor e por outras pessoas. Nesse
contexto, faz-se necessária uma retomada do papel do professor alfabetizador
cujo desafio é letrar os alunos por meio do trabalho com atividades de leitura
e escrita, executadas no plano da prática social, portanto em situação de
dialogicidade.
Essa nova forma de alfabetizar letrando requer do professor que ele
perceba as necessidades de sistematizar o uso, refletindo com a criança sobre
este, para garantir que ela saiba usar os objetos de escrita presentes na
cultura escolar. Na verdade, o medo existe por não se saber como proceder.
Buscam-se receitas, mas a má notícia. É que elas não existem; e a boa notícia é
que há indicações de caminhos, e que cada um poderá descobrir o seu.
Antes de o professor querer exercer esse papel de
"professor-letrador" é necessário que ele se conscientize e busque
ser letrado, domine a produção escrita, as ferramentas de busca de informação e
seja um bom leitor e um bom produtor de textos. Mas para que se torne capaz de
letrar seus alunos, é preciso que conheça o processo de letramento e que
reconheça suas características e peculiaridades.
Alfabetizar letrando significa orientar a criança para que aprenda a ler
e a escrever levando-a a conviver com práticas reais de leitura e de escrita;
substituindo as tradicionais e artificiais cartilhas por livros, por revistas,
por jornais, enfim, pelo material de leitura que circula na escola e na
sociedade, e criando situações que tornem necessárias e significativas praticas
de produção de textos.
Como já foi dito acima, os alunos já vem para a escola com seus
conhecimentos, que não é só o professor q tem algo a ensinar. Hoje em dia o
professor além de ter algo a ensinar também aprende muito com os alunos e
devemos deixar que eles participassem cada vez mais investigando e chegado as
suas próprias conclusões, o professor é mais um auxiliador do conhecimento dos
alunos.
Alfabetizar letrando é quando o professor compreende o universo de seu
aluno e aplique todo o seu conhecimento e sabedoria com base nessa realidade.
O professor não deve dissociar alfabetização de letramento, pois deve
trabalhar com seus alunos de forma simultânea. Para melhorar minha prática
pedagógica,é preciso fazer os alunos compreenderem e utilizarem a leitura e
escrita nas mais diversas situações do dia-a-dia,a fim de repensar o ensino da
língua.
Conclusão
Visto que a sociedade hoje é uma sociedade grafocêntrica, não basta ao
indivíduo ser simplesmente alfabetizado, ou seja, aprender meramente a
decodificar. Faz-se necessário que o mesmo seja também letrado para que possa
exercer as práticas sociais de leitura e escrita nesta sociedade. Percebemos
que tudo que já foi feito ainda é pouco e que muita teoria e discussão não
foram suficientes para mudar as estatísticas.
Do que precisamos, verdadeiramente, é conscientizar o professor
alfabetizador, pois somente quando ele tiver consciência da importância de seu
papel, na formação do educando em seu exercício das práticas sociais de leitura
e escrita na sociedade em que vive, é que vai romper com paradigmas
tradicionais e perceber que não basta alfabetizar. Hoje os nossos alunos
necessitam de um processo de aprendizagem que focalize o alfabetizar letrando.
Enquanto não houver uma ação significativa, um investimento na formação do
professor alfabetizador, as estatísticas continuarão gritando e retratando o
que encontramos em nossas escolas: alunos que chegam à 4ª série sem estarem
alfabetizados e letrados, e professores descomprometidos por falta de formação,
de conhecimento e de valorização.
Se quisermos propiciar a construção de conhecimentos das crianças
precisamos analisar, pensar, escolher novas situações problemas não só para
desafiá-las, mas para inferir cada vez mais sobre seu processo de construção de
conhecimento.
Os desafios que se coloca para os primeiros anos da educação fundamental
é o de conciliar esses dois processos (alfabetização e letramento), assegurando
aos alunos a apropriação do sistema alfabético-ortográfico e condições
possibilitadoras do uso da língua nas práticas sociais de leitura e escrita.
Não se trata de escolher entre alfabetizar ou letrar; trata-se de alfabetizar
letrando.
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