"TEXTO ENVIADO PELA PC RENATA DA ESCOLA WILFREDO PINHEIRO"
Entender como as crianças
aprendem é fundamental
Os conhecimentos
sobre como as crianças aprendem Matemática têm mais de 30 anos, mas ainda não
constam dos currículos dos cursos de licenciatura. Aos poucos, aparecem em
programas de formação continuada, mostrando maneiras eficientes de ensino da
disciplina.
O foco dessa
tendência que coloca o aluno no centro do processo de aprendizagem é apresentar
a ele situações-problema para resolver. "O docente tem o papel de
mediador, ajudando a construir os conceitos e fazendo com que o estudante tenha
consciência do que faz na hora de responder as questões", afirma Sandra
Baccarin, do Compasso, grupo de pesquisa em Educação Matemática da UnB.
No livro Didática da
Matemática, Roland Charnay afirma: "O aluno deve ser capaz não só de
repetir ou refazer, mas também de ressignificar diante de novas situações,
adaptando e transferindo seus conhecimentos para resolver desafios".
Guy Brousseau, ao
construir a teoria sobre o contrato didático, descreveu as relações entre o professor,
o saber e o aluno. O docente tem a função de criar situações didáticas em que
nem tudo fica explícito (são os obstáculos). À criança cabe pensar em possíveis
caminhos para resolvê-las, formulando variadas hipóteses sem ter a necessidade
de dar nenhuma resposta imediata. Esse segundo momento é chamado de adidático.
É aí que o aluno usa a própria lógica para produzir. "Assim, começamos a
preparar os jovens para pensar de forma autônoma", destaca Cristiano
Muniz. Depois disso, é tarefa do professor retomar o planejado, para analisar
as hipóteses da turma e sistematizar o aprendizado.
Para
compreender melhor as condições de ensino, Gérard Vergnaud elaborou a teoria
dos campos conceituais. Ao estudar como as crianças resolvem problemas de soma
e subtração, o francês percebeu que elas procuram a resposta usando
procedimentos diversos do tradicional, com base em vivências e aprendizados
anteriores.
"As pesquisas francesas deram aporte a
investigações que concebem o aluno como sujeito ativo na produção do conhecimento
e considera as formas particulares de aprender e pensar", resume Cristiano
Alberto Muniz, coordenador adjunto do Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade de Brasília (UnB). Essa abordagem tem implicações didáticas, pois
coloca o professor como conhecedor do processo de aprendizagem, da natureza dos
conteúdos e das intervenções mais adequadas para ensinar.
Aulas em que se expõem conceitos, fórmulas e
regras e depois é exigida a repetição de exercícios, tão usadas até hoje, têm
origem no começo do século 20. Porém sabe-se que elas não são a melhor opção
para a Educação Matemática. "Procedimentos clássicos podem ser utilizados
desde que tenham coerência com os objetivos do planejamento e estejam
acompanhados de tempo para a ref lexão e a discussão em grupo", observa
Muniz.
Descobrir estratégias e
socializá-las com os colegas
Ciente da capacidade
dos pequenos de criar hipóteses, é possível elaborar problemas com diferentes
enunciados, variando o lugar da incógnita, e propor discussões em grupo e
momentos nos quais os estudantes justifiquem a escolha. "Ao refletir sobre como pensou para chegar à resposta e
comunicar isso aos colegas, o aluno organiza o próprio pensamento e compartilha
a estratégia, permitindo que ela seja socializada", afirma Daniela
Padovan, selecionadora do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10. A
justificativa pode ser feita oralmente ou por escrito. Nesse caso, é possível
que ele inicie com representações pessoais - como riscos e desenhos - antes de
chegar ao registro formal da linguagem matemática. É esse processo que leva à
aprendizagem efetiva.
Um aspecto muito
disseminado da abordagem socioconstrutivista - base da didática da Matemática
da escola francesa - é a visão da aprendizagem como um processo social. Isso
significa considerar a articulação dos saberes escolares com a realidade das
crianças. A ideia, contudo, costuma gerar muitos equívocos. Um deles ocorre
quando o professor privilegia a vivência de situações do cotidiano para
introduzir um conteúdo, esquecendo-se, posteriormente, de sistematizar o
aprendizado.
Outro engano é a
ideia de que contextualizar é ensinar apenas a Matemática usada no dia a dia,
como a aritmética de uma compra de supermercado. Contudo, somente em momentos
de descontextualização é possível construir conhecimentos para que possam ser
usados em outras circunstâncias. Questões internas da disciplina, como a
propriedade distributiva da multiplicação, não estão explícitas no que se faz
diariamente, mas devem ser objeto de discussão da turma. "A contextualização
é importante, mas não pode ser usada o tempo todo", diz Daniela Padovan.
Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/matematica/fundamentos/assim-turma-aprende-mesmo-panoramas-perspectivas-427209.shtml?page=2
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